quarta-feira, 1 de maio de 2013

Vigília Dominical : O Ofício de Matinas (Primeira Parte)

                                                                                         Os Seis Salmos

Matinas,  quando realizadas na imediata  sequencia das Vésperas, começa com a leitura dos Seis Salmos :  3, 37, 62, 87, 102, e 142 , lidos em ordem sequencial.
A leitura dos Salmos é precedida por dois versículos bíblicos: As palavras três vezes repetidas  em louvor pelo anjo em Belém: "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra, boa vontade para com os homens" (Lucas 2:14) , e  duas frase do Salmo 50, repetida por duas  vezes : "Senhor, Tu abrir meus lábios, e minha boca anunciará os teus louvores" .
                                                                     Significado :

O primeiro desses versos, as palavras angelicais de louvor, de forma clara e eloquentemente apontam em três direções fundamentalmente relacionados a luta  de uma vida cristã:

 Para cima, em direção a Deus nas palavras de louvor: "Glória a Deus nas alturas",

para o exterior ,  em direção a cada próximo,  nas palavras ", e paz na terra", e para as profundezas de cada coração, nas palavras, "boa vontade entre os os homens. "

Todas as direções unificadas formam o símbolo da Cruz, manifestando assim o ideal da vida cristã: a paz concedida Deus, a paz entre os homens, e paz na alma.
O Leitor se posiciona no centro da nave, diante do icone central, e segurando uma vela para iluminar a sua leitura, da inicio a leitura dos Salmos.

Durante a leitura dos Seis Salmos as velas e demais focos de luz da igreja devem ser apagados.

   Significado :

O cair da escuridão simboliza a noite escura,  quando Cristo veio à terra,  quando  o anjo cantou o hino de louvor: "Glória a Deus nas alturas".

A penumbra da igreja nos ajuda a orar mais intensamente.

Os Seis  Salmos abrangem  toda a gama de experiências humanas que iluminam o Novo Testamento e a  vida cristã,  por justamente iluminarem o doloroso caminho que ao fim conduz a verdadeira alegria.

Na metade dos Seis Salmos , o salmo  87, o mais triste dos seis lidos,  é preenchido de uma  terrível amargura.

Quando então este salmo é lido,  o sacerdote deixa o altar e se porta diante das  Portas Reais, e em silencio  ler as orações da luz, que ele já estava lendo no altar  diante da Mesa Santa.

 Neste  momento, o sacerdote simboliza Cristo, que, depois de ouvir o sofrimento da humanidade decaída, não só desce para a humanidade, mas mesmo compartilha  o seu sofrimento até o fim. O salmo lido neste momento, fala deste tema.


Estas orações  lidas pelo sacerdote silenciosamente contêm orações por todos os fieis, para que sejam perdoados os seus pecados, para que lhes seja dada a verdadeira fé e  amor sincero, para que todas as suas obras sejam abençoadas, para que todos  possam ser dignos do Reino Celestial 
Orações da luz
1ª.
Senhor, cheio de compaixão e de
misericórdia, lento na cólera e rico em
piedade, escuta a nossa oração e sê atento à
voz da nossa súplica. Sê bom para conosco,
conduz-nos pelos Teus caminhos, a fim de
que caminhemos em Tua verdade. Rejubila
nosso coração no temor de Teu Santo Nome,
pois Tu és grande e fazes maravilhas. Só Tu
és Deus e ninguém dentre os seres divinos é
igual a Ti, Senhor, poderoso em misericórdia
e bom na força para socorrer, consolar e
salvar aqueles que esperam em Teu Santo
Nome.
Pois a Ti pertence toda a Glória, toda a
Honra e toda a Adoração, Pai, + Filho e
Espírito Santo, eternamente, agora e sempre
e pelos séculos dos séculos. Amém!
2ª.
Senhor, não nos castigues em Tua ira nem
nos censures em Teu furor. Age para
conosco segundo a Tua bondade, ó médico
que curas as nossas almas. Conduz-nos ao
porto da Tua bondade e ilumina os olhos de
nosso coração, para que conheçamos a Tua
verdade. Concede-nos que passemos o resto
deste dia e de toda a nossa vida em paz e
sem pecado, pelas oraç
ões da Santa Mãe de
Deus e de todos os Santos.
Pois a Ti pertence a Forç
a, o Reino, o Poder e
a Glória, Pai + Filho e Espírito Santo,
eternamente, agora e sempre e pelos séculos
dos séculos. Amém!
3ª.
Senhor, nosso Deus, lembra-Te de nós, Teus
servos, pecadores e inúteis. Sempre que
invocamos o Teu Santo Nome, não nos
confundas na esperança da Tua
misericórdia, mas concede-nos, Senhor,
todos os bens que pedimos para a nossa
salvação. Torna-nos dignos de Te amarmos
de todo o nosso coraçã
o, de Te temermos e
de fazermos sempre a Tua vontade.
Pois Tu és um Deus bom e amigo do
homem, e a Ti rendemos glória, Pai, + Filho
e Espírito Santo, eternamente, agora e
sempre e pelos séculos dos séculos. Amém!
4ª.
Senhor, a Quem celebram os hinos
incessantes e os cânticos de glória contínuos
dos Poderes celestes, enche os nossos lábios
do Teu louvor para que enalteçamos o Teu
Santo Nome e faz-nos participar na herança
eterna com todos aqueles que Te temem na
verdade e guardam os Teus mandamentos,
pelas orações da Santa Mãe de Deus e de
todos os Santos.
Pois a Ti pertence toda a Glória, toda a
Honra e toda Adoração, Pai, + Filho e
Espírito Santo, eternamente, agora e sempre
e pelos séculos dos séculos. Amém!

.
Senhor, que em Tuas mãos imaculadas
conténs todas as coisas, que és magnânimo
para com todos nós, que lamentas as nossas
iniqüidades, lembra-Te da Tua compaixão e
piedade e protege-nos segundo a Tua
bondade. Concede também a graça de
escaparmos, neste dia, às maquinações de
toda espécie do Maligno e preserva-nos de
todas as ciladas, pela graça do Teu Espírito
Santo.
Pela misericórdia e amor pelo homem de
Teu Filho único, com o qual és bendito, bem

como do Teu Espírito Santo, bom e
vivificante, eternamente, agora e sempre e
pelos séculos dos séculos. Amém!
6ª.
Ó Deus infinitamente grande e admirável,
que, na Tua providência, governas todas as
coisas com uma bondade incompreensível,
que nos destes os bens temporais e, pelos
bens já concedidos, um penhor do Reino
prometido, Tu que, durante este dia, nos
concedeste evitássemos todo o mal, faz que
vivamos fora do pecado o resto da nossa
vida, em presença da Tua Santa Glória, e
cantemos o Único Deus, bom e amigo do
homem.
Pois Tu és o nosso Deus e nós Te damos
Glória, Pai, + Filho e Espírito Santo,
eternamente, agora e sempre e pelos séculos
dos séculos. Amém!
7ª.
Ó Deus grande e sublime, o Único Imortal,
que habitas na Luz inacessível, que criaste o
Universo com sabedoria, que separaste a luz
das trevas, que estabeleceste o Sol para
presidir ao dia, a Lua e as estrelas para
presidirem à noite, que nos julgaste dignos,
ainda que pecadores, de nos apresentarmos,
nesta hora, diante da Tua Face, para Te
louvarmos e oferecermos o hino vespertino,
Tu mesmo, ó Amigo do homem, faz que a
nossa oração se eleve a Ti como o incenso e
recebe-a como um perfume de suavidade
espiritual. Concede-nos que passemos, na
paz, esta tarde e a noite que se aproxima,
reveste-nos com as armas da luz, livra-nos
dos terrores noturnos que se propagam nas
trevas e faz que o sono que nos concedes
para refazermos as nossas forças seja isento
de toda a inspiração diabólica. Sim, Mestre,
primogênito de todas as criaturas e
dispensador de todos os bens, faz que,
penetrados de arrependimento, nos nossos
leitos, nos lembremos do Teu Nome e,
guiados pelos Teus mandamentos, nos
levantemos com a alegria no coração para
glorificarmos a Tua bondade e suplicarmos
a Tua misericórdia para as nossas próprias
faltas e para os erros do Teu Povo que Te
pedimos protejas, pelas orações da Santa
Mãe de Deus.
Pois Tu és um Deus bom e amigo do homem
e a Ti rendemos glória, Pai, + Filho e Espírito
Santo, eternamente, agora e sempre e pelos
séculos dos séculos. Amém!



                                                                   
                                                                    Grande Litania


Após a conclusão dos Seis Salmos e das orações da luz feitas pelo sacerdote, a  Grande Litania  é mais uma vez entoada pelo Diácono, como já havia sido  durante as Vésperas, no início da Vigília noturna.


                                                                       Significado :

Neste momento, esta sequencia de súplicas é dirigida diretamente a  Cristo, o Intercessor, que agora surge na terra, como foi anunciado com os versiculos relativos a Sua Natividade , ditos antes do início dos Seis Salmos.

Cristo então irá atender a todas as súplicas em favor de nosso bem estar físico e espiritual, contidas na Litania.


                                                   Salmo 117 "O Senhor é Deus"

Imediatamente após a Grande Litania, , ouvimos o canto do Salmo 117: "O Senhor é Deus", e o seu refrão muitas vezes repetido: " O Senhor é Deus e Ele se nos manifestou, Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor. "

                                                                    Significado :

Este cantico é proferido neste ponto específico das Matinas a fim de dirigir a nossa  atenção para o inicio do Ministério Público de Cristo.


Este versículo expande o louvor do Salvador que foi ouvido já no início das Matinas durante a leitura dos Seis  Salmos.

Estas palavras também servem como uma saudação a Jesus Cristo, quando Ele adentrou em Jerusalém pela última vez antes de Sua paixão na cruz.

A doxologia "O  Senhor é Deus e Ele se nos manifestou..." e os três versículos especiais que se seguem são cantados  pelo Diácono diante do ícone de Cristo no iconostasio, de modo que o coro repete o primeiro verso, "O Senhor é Deus e Ele se nos manifestou."


O canto ou a recitação dos versos buscam refletir um estado de espírito alegre e festivo. Por esta razão,  neste momento as velas e demais luzes da igreja, que estavam apagadas desde a   leitura do Seis Salmos penitenciais, são novamente acesas.

Imediatamente após os versos  "O Senhor é Deus", o Tropario da Ressurreição é cantado.

A Festa é glorificada nEle e a essência das palavras " O Senhor é Deus e Ele se nos manifestou " é  então explanada nesse tropário, pois nele  os sofrimentos de Cristo e a Sua ressurreição dentre os mortos são inicialmente descritos,  e vão ser iluminados em detalhes no continuar do ofício das Matinas.                                                                     

                                                                       Kathismas

Na Vigília o segundo e terceiro  Kathisma  são lidos após a conclusão da  Grande Litania e dos versos  " O Senhor é Deus...", e  do tropario da ressurreição.

A palavra grega καθισμα (kathisma) significa  o "lugar" ou "tenda", e  durante a  sua leitura ha permissão para os fiéis  sentarem.

O Saltério inteiro é  composto de 150 salmos, é dividido em 20 kathisma, isto é, em 20 grupos ou capítulos de salmos.

Cada kathisma por sua vez é dividido em três "glórias", isto é, cada seção de kathisma conclui com as palavras: "Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo", sendo cantado três vezes, e depois de cada " glória ", o coro canta" Aleluia, Aleluia, Aleluia. Glória a Ti, ó Deus. "

                                                                            Significado :

O kathisma contem expressões de penitenciais e contemplativas. Eles nos convidam a considerar os nossos pecados, e  são justamente incluídos pela Igreja Ortodoxa nos Serviços Divinos para instar os fiéis a olhar para as suas próprias vidas e ações, e aprofundar o seu arrependimento diante de Deus.

O segundo e o terceiro  kathisma lidos durante as matinas dominicais são de caráter profético. Eles descrevem a paixão de Cristo: o abuso que Ele suportou, o cravar de pregos em Suas mãos e pés,  o sorteio de partes de suas vestes,  Sua morte e ressurreição dentre os mortos.
O kathisma da Ressurreição, durante a vigília busca conduzir os fiéis para a parte central e mais festiva do oficio,  para o polyeleos.

                                                                       O Polyeleios

"Louvai o nome do Senhor... Aleluia".

Estas e as demais palavras entoadas no Polyeleios são  tiradas dos Salmos  134 e 135 e  são introduzidas na  parte mais festiva do Serviço  da Vigília da Ressurreição.

                                                                      Significado :

O Polyeleos  celebra a ressurreição de Cristo. A palavra πολυελεοσ ( polyeleos) vem de duas palavras gregas que significam "grande em benignidade".

O ponto crucial e fulcral do polyeleos repousa no cantico "Louvai o nome do Senhor", com cada verso dos Salmos seguido pelo refrão "e a sua benignidade é eterna."

Neste refrão, o Senhor é glorificado pelas misericórdias abundantes  que Ele derrama sobre  o homem,  sendo a maior dessas misericordias a salvação e redenção do homem.
No  polyeleos, as Portas Reais são abertas, e  toda a igreja é iluminada,


O clero sai  do altar e incensa toda a igreja.  Através destas ações litúrgicas, testemunhamos os acontecimentos da Ressurreição



Na abertura das Portas Reais , vislumbramos como Cristo ressuscitou do sepulcro, e na procissão do  clero do altar para o centro da igreja, vemos  como Ele apareceu novamente entre os Seus discípulos.
 
Enquanto isso está acontecendo, o salmo: "Louvai o Nome do Senhor" (Salmo 134:3), continua a ser cantado, juntamente com o refrão angelical, "Aleluia" (Louvado seja o Senhor).



Aqui temos o coro  agindo em nome dos anjos, chamando os fiéis para louvar o Senhor ressuscitado.

O canto  "grande em benignidade" durante os polyeleos,  demonstra de forma marcante  a misericórdia de Deus.

É especialmente adequado durante esta parte do oficio, cada fiel louvar o Seu Nome e agradecer a Ele por Sua misericórdia.

Quando do tempo de preparação para a Grande Quaresma, o curto Salmo 136 é adicionado entre os versos do Salmo 134 e 135 que constituem os polyeleos.


O Salmo 136 começa com as palavras "pelas águas da Babilônia" e fala do sofrimento do povo hebreu no cativeiro babilônico e da sua dor pela perda de sua terra natal.

Ele é  cantado durante as várias semanas antes da Grande Quaresma, para que nós,  como os hebreus que se lutaram para se libertar do cativeiro babilônico e retornar à sua pátria, a Terra Prometida, os cristãos que são o Novo Israel, possam então agora se esforçar em arrependimento e abstinência, para ingressar em  seu lar espiritual, o Reino de Deus.
O Clero em procissão, parte do centro da igreja, e retornando ao Santuario, incensa o Altar, ao sair dele incensa o iconostásio e os cantores do coro.


Do ambão, o povo é incensado
Incensado tanto os postados a direita quanto a esquerda da nave,  e então a procissão desce novamente
Então toda a nave é incensada, e tendo o Diácono a frente com a vela, o Presbitero caminha com o turíbulo
Os fiéis devem deixar os cantos coim os ícones liberados, para que os ícones sejam incensados.
O Díacono a frente simboliza o Precursor, São João Batista, que precede o Cristo, simbolizado pelo Presbitero. Os acólitos neste momento, simbolizam os anjos, que nunca deixam de ladear o Senhor.



Durante as festas do Senhor e da Deípara, bem como em dias comemorativos  de santos especialmente venerados por uma comunidade, o polyeleos é seguido por uma ampliação, um verso curto de loas para a festa ou  para o  santo do dia.

Neste momento,  o clero, diante do ícone festivo no centro da igreja, canta estes versos extras, e  enquanto a igreja inteira é incensada, o coro repete o mesmo texto várias vezes.


O Presbitero entrega o incenso ao Diácono,, e este incensa o Presbítero.


Os anjos foram os primeiros a saber da ressurreição de Cristo e a dizer a Boa Nova as pessoas.

Assim, o polyeleos começa com os anjos cantando: "Louvai o nome do Senhor."

Depois dos anjos,  foram as mulheres portadoras de mirra (pois  de acordo com o antigo costume hebraico, foram ao sepulcro de Cristo para ungir seu corpo com mirra, um óleo aromático) que souberam da notícia da ressurreição.

Assim, o canto do Aleluia angelical é seguido pelo tropario da ressurreição que narra a visita  das miróforas.
Cada tropario é precedido pelas palavras, "Bendito és Tu, ó Senhor, ensina-me os teus mandamentos."

Por último, temos a notícia da ressurreição dada aos  apóstolos. Neste momento da história do Evangelho é comemorado com a leitura do Evangelho da Ressurreição, a parte central do Serviço de Vigilia.

Várias doxologias preliminares e orações precedem a leitura do Evangelho.
Assim, após o tropário da Ressurreição e de uma Pequena Litania ,  os versos especiais conhecidos como  prokimenos.

A razão para esta longa  preparação dos fiéis para a leitura do Evangelho é que o Evangelho continua a ser um livro "lacrado" e uma "pedra de tropeço" para aqueles entre os fiéis que a Igreja ainda não ensinou o entendimento e a aceitação correta dele.

Os Santos Padres ensinam que um cristão deve orar primeiro para tirar o máximo proveito espiritual da leitura da Sagrada Escritura. Esta preparação  introdutório e orante para a leitura do Evangelho na Vigília tem  esse propósito
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário